Valdeci dos Santos, herói quase anônimo de Parnaíba.

O Brasil inteiro está unido e comovido pela situação por que passam centenas de milhares de gaúchos, entre homens, mulheres e crianças e animais retirados de suas casas pelo desastre natural das chuvas que castigam o Rio Grande do Sul, suas terras de plantio e de pastagens de gado. Foram mais de cem pessoas mortas e outras tantas desaparecidas até o presente momento.

No longínquo Piauí, mais precisamente na sua cidade de Parnaíba, de frente para o Atlântico, na praça de Santo Antônio, no seu Centro Cívico, monumento erguido na administração do prefeito Lauro Correia, num tempo curto, entre 1965 e 1966, sendo inaugurado a 7 de setembro para a homenagear a ditadura militar, na face de uma das quatro pirâmides, que pouca gente presta atenção, está uma placa que me comove todas as vezes que piso naquele monumento.

É a homenagem agradecida de toda uma cidade a um soldado do Tiro de Guerra, de nome Valdeci dos Santos. Foi mandada colocar na administração de Elias Ximenes do Prado, falecido recente. Na placa está escrito: Em 1974 houve uma grande cheia na bacia do rio Parnaíba.

Nossa cidade e as ilhas do delta foram particularmente muito atingidas. As autoridades federais, estaduais e municipais, bem como as lideranças civis da comunidade, entidades religiosas e os atiradores do Tiro de Guerra 100-12 tudo fizeram para amparar 12 mil flagelados.

O atirador de número 244, Valdeci dos Santos, em missão de distribuição de víveres aos nossos cidadãos necessitados, faleceu. A ele, herói desta grande jornada, a homenagem da cidade agradecida, administração prefeito Elias Ximenes do Prado. Decreto nº 8 de 24 de maio de 1974.

À época este corrido comoveu toda a Parnaíba. Acrescentados as milhares de famílias desabrigadas, passando todo sorte de privações, sem suas casas, suas roupas, móveis e documentos, ocorre a morte de um atirador do Tiro de Guerra 10-012. Dele e de sua família pouco se sabe, apenas que morava na Guarita, bairro São Francisco, de formação predominante de operários da Estrada de Ferro Central do Piauí.

Lá vão cinquenta anos da morte de Valdeci dos Santos. Deveria ser um rapaz comum, cheio de esperanças, ardor em servir ao próximo e ao Brasil, como é ensinado na caserna e o que é próprio nessa idade entre 18 e 20 anos. Vivo fosse, Valdeci dos Santos hoje estaria beirando os 70 anos, seria certamente casado, aposentado, teria filhos e netos. Teria entre os milhares de parnaibanos, sido mais um homem anônimo que passaria todos os dias na frente do Centro Cívico, sem entender sua importância.

 

Facebook
WhatsApp
Email
Imprimir
Picture of Pádua Marques

Pádua Marques

Jornalista, cronista, contista, romancista e ecologista.

Seja avisado a cada notícia nova!