Havia em Salvador, nos idos do século XIX, no final da Avenida Beira Mar, que começava na Ribeira e se estendia até o Bonfim, formando a enseada de Itapagipe, um porto onde eram comercializados os produtos vindos de diferentes partes do recôncavo baiano.
Conhecido como Porto do Bonfim, era um centro de comércio nos fins de semana onde se podia comprar e vender de tudo, principalmente produtos agrícolas e artesanato das cidades e ilhas da Baía de Todos os Santos e seus arredores. Lá atracavam saveiros que chegavam abarrotados de gente e produtos que movimentavam a feira.
Perto dali existia um local peculiar cuja característica era a comercialização de lenha e carvão vegetal das mais diversas qualidades de madeira, tanto que o local ficou conhecido como Porto da Lenha. Em uma época que tudo era movido a queima de lenha, desde o fogão ou o simples ferro de engomar a carvão a pequenas fábricas e industrias, a lenha era um combustível precioso que abastecia grande parte da cidade baixa, sendo transportada em lombos de burros e mulas ou em grandes feixes carregados por escravos.
Certa vez um escravo comentou com outro que subir a ladeira que dá acesso a igreja do Bonfim carregando aqueles pesados feixes era “lenha”, daí a ladeira passou a ser chamada de “Ladeira da Lenha”, assim conhecida até hoje.
Era um porto popular frequentado sobretudo por pessoas das redondezas, tanto das cidades e lugarejos do entorno da baía quanto da enseada de Itapagipe e da cidade baixa.
A produção trazida pelos saveiros abastecia até parte das ladeiras que davam acesso a cidade alta. Depois, com a criação do antigo mercado modelo em frente a Praça Cairu alguns saveiros passaram a se deslocar para aquele local, esvaziando assim o Porto do Bonfim e o Porto da Lenha.
Mais adiante foi criada a feira de Água de Meninos, próximo a Ladeira da Água Brusca, facilitando sobremaneira a comercialização dos produtos com os consumidores da cidade alta.
Desse modo, o Porto do Bonfim e o Porto da Lenha ficaram restritos aos consumidores próximos do Bonfim. da Ribeira, da Enseada dos Tanheiros, e bairros próximos como Uruguai e Roma, caindo de vez em degradação ao longo do tempo e do início do século XX, perdendo sua importância comercial.
*Valdir Barreto Ramos, suboficial aposentado da Marinha, Turma Lima de 1975 da EAMCE, poeta e romancista.