A Igreja do Chico Rei.
A Igreja de Santa Efigênia do Alto da Cruz, Ouro Preto, Minas Gerais, foi criada pela confraria do Rosário, formada por negros escravos ou alforriados, fundada na cidade por volta de 1730.
O templo começou a ser construído ainda na primeira metade do século XVIII sendo concluído em 1785. A irmandade teve condições de bancar vários artistas para embelezamento do templo, dentre os quais Manuel Francisco Lisboa – o pai do Aleijadinho, Francisco Xavier de Brito (entalhador), Francisco Branco (entalhador), Manuel Gomes da Rocha (entalhador), Miguel da Costa (pedreiro), Felipe Vieira (entalhador)
Com o crescimento da cidade e aumento de recursos, a irmandade resolveu fazer sua própria igreja, que foi dedicada a Nossa Senhora do Rosário (a principal devoção mariana adotada pelos negros). Mas, com o passar dos anos, a igreja ficou mais conhecida por sua outra padroeira, Santa Efigênia – uma princesa da Etiópia, nascida no século I da era cristã, que foi convertida pelo apóstolo São Mateus e que colaborou enormemente na cristianização daquele país. Obviamente era venerada com devoção por todos que tinham também origens africanas.
O teto da igreja é belamente adornado com pinturas, e no altar mor há uma representação de um papa de cor negra. Também na capela mor, há painéis que foram pintados em dois tons de cores por Manoel Rabelo de Souza, retratando cenas da vida cotidiana do século XVIII.
Conta-se que, na etapa em que os altares estavam em fase de douramento, as escravas que trabalhavam nas minas escondiam resíduos de ouro dentro dos cabelos, e posteriormente lavavam as madeixas nas pias de água benta da igreja. O ouro que caía no fundo era depois retirado e usado para dourar os altares. Conta-se, também, que os negros trabalhavam fazendo a igreja no período noturno, pois durante o dia tinham que atuar nas minas.
Consta na História da Cidade que a Igreja teve grande financiamento do ex-escravo, alforriado, “Chico Rei”, com os recursos obtidos pelo ouro retirado da Mina da Encardideira.
A história ou lenda sobre Chico Rei, fala sobre um grupo de negros capturados na região do Congo, que foram levados para o Rio de Janeiro. Nesse grupo estava Calanga, o Rei do Congo e sua família. Foram vendidos como escravos ao Major Augusto, para trabalharem na Mina da Encardideira, em Vila Rica. Calanga foi rebatizado e passou a se chamar Francisco. Trabalhou duro e pode comprar a sua liberdade. Comprou também a liberdade de outros escravos. Chegou inclusive a comprar a própria Mina da Encardideira. O seu povo libertado, muitos dos quais oriundos do Congo, passou a chamá-lo de Rei do Congo em Minas Gerais.
Minas Gerais se tornou o lugar do Brasil onde havia a maior quantidade de negros livres. Muitos escravos negociavam a sua liberdade, com o ouro extraído das minas, com pagamentos em parcelas e valores futuros, muitas vezes pagas em ouro ou com a prestação de serviços nas próprias minas. * Eric Vinícius é professor, natural de Parnaíba, um dos grandes pesquisadores da arquitetura nacional