Recife, 24 de dezembro de 2024
Hoje foi um dia que nos faz refletir sobre os privilégios que temos na vida. Na véspera de Natal, visitei, junto de minha amada, um desses grandes homens que estão no meu panteão. Joaquim Nabuco. Ainda criança, quando era simplesmente “Quinquim”, no Massangana, foi amamentado com leite de escrava e viu de perto os horrores da terrível chaga que foi a escravidão no nosso país.
Quando deixou o Engenho, ninguém poderia imaginar o que viria a se tornar. As imagens da infância, moldaram o homem que fez da Abolição a causa de sua vida. Aquele que, no dia 13 de maio, deu o grito de liberdade na janela do Paço. Foi também autor de livros como O Abolicionismo (1883), Um Estadista do Império (1887), Minha Formação (1900) e outras obras que se tornariam clássicas, marcando o seu aniversário – 19 de agosto – como o Natal da historiografia brasileira.
Falar de Nabuco é falar sobre o Brasil. É lembrar que temos, sim, belezas humanas. É lembrar que podemos lutar e construir um país mais justo. Coisas que parecem distantes em tempos onde a classe política se infesta de mitos falsos, brocháveis e outras espécies de canalhas, que louvam torturadores e arrotam democracia.
O Brasil não é assim, mas ele está. Nesse cenário de desolação, sua memória ecoa como um fio de esperança no meio da escuridão. Ninguém, talvez, tenha descrito tão bem quanto Carolina, sua filha, o que sinto: “ — Sou um anacronismo vivo, e não pode haver nada mais cruel. É a tragédia dos velhos, mas a mim colheu-me na mocidade. Eu sou o velho Brasil, o Brasil agonizante ”. Mas nós, estamos aqui. Sendo a verdadeira resistência e tentando fazê-lo sorrir, aí da eternidade. Gratidão por tudo.
Ps: Fotos tiradas descontraidamente pela Ana, minha companheira de vida, enquanto deixava uma lembrança ao mestre. As velhas flores brancas, das lapelas, do quilombo do Leblon. *Eric Vinícius, professor parnaibano, cronista, da série O Viajante.
