Em uma noite que poderia ser comum como qualquer outra noite, Laura lê tranquilamente seu livro na presença de si mesma. Ausência de seu marido brincalhão, que estava fazendo turno noturno, é o motivo da paz silenciosa da casa, ideal para uma leitura. Já passara da meia noite quando o telefone fixo toca. O som abrupto agride o silêncio do local, e a tensão é inevitável quando Laura estende a mão para pegar o telefone. – Quem fala? Uma voz distorcida e medonha fala do outro lado da linha. – Você sabe que dia é hoje?
Laura desliga o telefone no susto. Ao passar uns minutos e nada acontecer, tenta voltar a se concentrar na leitura, sem sucesso. Novamente o telefone toca. Laura firma as mãos buscando coragem e pega o telefone com força. – Você sabe que dia é hoje? – Que brincadeira de mal gosto é essa? – disse Laura. – Vocês jovens estão assistindo a filmes de terror demais pra achar que vão me assustar. Vão estudar invés de passar o dia no cinema. Laura bate o telefone, tenta ligar para o marido, mas ele não atende.
Tão acostumada com a falação dele e agora sua voz está muda no pior momento. De repente, ela escuta um barulho vindo do quintal. Mesmo com todo medo do mundo, Laura pega uma faca e vai conferir. Chegando ao local, percebe que seu jarro de flores foi atingido por uma pedra. Além de medo, agora Laura está sentindo raiva também. Ela olha para o chão e repara em um detalhe: tinha um papel preso a uma pedra com uma mensagem: “você sabe que dia é hoje?” .
Quando não poderia ficar pior, escuta a porta da sala ser destrancada e corre para sala. Laura encara a porta esperando ser aberta. Com a faca na mão, ela está pronta para fazer o que for preciso. Do outro lado, ela escuta uma voz masculina e gritante falando: – Você sabe que dia é hoje?! – Qual a droga do dia de hoje? – Laura responde desesperada. A porta se abre, revelando um homem vestindo um uniforme de trabalho, um buquê de flores em uma mão e chocolates em outra.
– É nosso aniversário de casamento, Amoreco. – Que palhaçada é essa, Cláudio? – grita Laura – você sabe o que me fez passar?
– Não gostou da surpresa? – perguntou Cláudio – Foi mais divertida que a do ano passado. – Você vai dormir no sofá hoje, não quero ver sua cara tão cedo. Laura vai até o quarto e bate a porta. O marido ainda rindo vai se aconchegar e repara no livro que estava jogado ao lado. Como sabe que não vai pegar no sono fácil naquele sofá duro, estica o braço para pegá-lo e decide continuar a leitura de onde sua esposa parou, era um conto de terror.
Carlos Kevin é estudante do curso de Letras Português no campus da UESPI em Parnaíba e participou da oficina de contos ministrada no Museu do Mar, por Pádua Marques evento promovido pela Academia Parnaibana de Letras.