O telefonema. *Por Carlos Kevin

Em uma noite que poderia ser comum como qualquer outra noite, Laura lê tranquilamente seu livro na presença de si mesma. Ausência de seu marido brincalhão, que estava fazendo turno noturno, é o motivo da paz silenciosa da casa, ideal para uma leitura. Já passara da meia noite quando o telefone fixo toca. O som abrupto agride o silêncio do local, e a tensão é inevitável quando Laura estende a mão para pegar o telefone. – Quem fala? Uma voz distorcida e medonha fala do outro lado da linha. – Você sabe que dia é hoje?

Laura desliga o telefone no susto. Ao passar uns minutos e nada acontecer, tenta voltar a se concentrar na leitura, sem sucesso. Novamente o telefone toca. Laura firma as mãos buscando coragem e pega o telefone com força. – Você sabe que dia é hoje? – Que brincadeira de mal gosto é essa? – disse Laura. – Vocês jovens estão assistindo a filmes de terror demais pra achar que vão me assustar. Vão estudar invés de passar o dia no cinema. Laura bate o telefone, tenta ligar para o marido, mas ele não atende.

Tão acostumada com a falação dele e agora sua voz está muda no pior momento. De repente, ela escuta um barulho vindo do quintal. Mesmo com todo medo do mundo, Laura pega uma faca e vai conferir. Chegando ao local, percebe que seu jarro de flores foi atingido por uma pedra. Além de medo, agora Laura está sentindo raiva também. Ela olha para o chão e repara em um detalhe: tinha um papel preso a uma pedra com uma mensagem: “você sabe que dia é hoje?” .

Quando não poderia ficar pior, escuta a porta da sala ser destrancada e corre para sala. Laura encara a porta esperando ser aberta. Com a faca na mão, ela está pronta para fazer o que for preciso. Do outro lado, ela escuta uma voz masculina e gritante falando: – Você sabe que dia é hoje?! – Qual a droga do dia de hoje? – Laura responde desesperada. A porta se abre, revelando um homem vestindo um uniforme de trabalho, um buquê de flores em uma mão e chocolates em outra.

– É nosso aniversário de casamento, Amoreco. – Que palhaçada é essa, Cláudio? – grita Laura – você sabe o que me fez passar?

– Não gostou da surpresa? – perguntou Cláudio – Foi mais divertida que a do ano passado. – Você vai dormir no sofá hoje, não quero ver sua cara tão cedo. Laura vai até o quarto e bate a porta. O marido ainda rindo vai se aconchegar e repara no livro que estava jogado ao lado. Como sabe que não vai pegar no sono fácil naquele sofá duro, estica o braço para pegá-lo e decide continuar a leitura de onde sua esposa parou, era um conto de terror.

Carlos Kevin é estudante do curso de Letras Português no campus da UESPI em Parnaíba e participou da oficina de contos ministrada no Museu do Mar, por Pádua Marques evento promovido pela Academia Parnaibana de Letras.

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Pádua Marques

Jornalista, cronista, contista, romancista e ecologista.

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