Nim indiano: espécie tradicional da Ásia é comum em todo Nordeste, mas apresenta riscos.

Antes uma árvore plantada com frequência pela cidade, o nim é apontado como um perigo a outras espécies por ser exótica e ter dificil controle; entenda.

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A cidade de Fortaleza está cheia delas, com suas copas cheias e folhas em formato serrado. O nim indiano é uma planta tradicional da Ásia que se adaptou muito bem ao Nordeste brasileiro. Tão bem que, segundo dados da Secretaria do Urbanismo e Meio Ambiente, é a árvore mais comum encontrada na Capital do Ceará.

O problema é que ela representa riscos ao meio ambiente, e estudiosos explicam que a planta é nociva a animais. Apesar de popularmente ser comentado que seus frutos deixam os pássaros estéreis, não há comprovação científica para isso, segundo o engenheiro agrônomo Lamartine Soares.

Neste contexto, o Manual de Arborização da Prefeitura de Fortaleza foi atualizado em 2020 para informar que “no atual contexto urbano de Fortaleza, plantas ornamentais invasoras como o nim-indiano (Azadirachta indica), a castanholeira (Terminalia catappa), a leucena (Leucaena leucocephala), a viuvinha (Cryptostegia madagascariensis), dentre outras, são problemas ambientais sérios e ameaçam a flora nativa”.

Segundo Lamartine Soares, doutor em Ciências Florestais pela Universidade de Brasília (UnB), o nim é uma espécie invasora, que, ao ser plantada no Nordeste brasileiro, espalhou-se de forma desenfreada. “Não existe um cultivo seguro dessa espécie, porque ela sempre vai se dispersar.”

Em alguns pontos da Cidade, como no bairro de Fátima e na avenida Humberto Monte, as árvores crescem lado a lado e aparecem em grandes quantidades. Em novembro de 2023, um shopping de Fortaleza cortou cerca de dez árvores nim. De acordo com o estabelecimento, “as árvores foram retiradas devido aos desequilíbrios ecológicos oferecidos pela espécie, uma vez que podem causar danos à flora e fauna locais”.

O nim não é indicado pois tem raízes exploratórias, que crescem muito em procura de água, às vezes quebrando caixas sanitárias e calçadas. Além do crescimento desenfreado de sua copa, que causa conflitos com a fiação elétrica, explica Lamartine.

O biólogo ressalta, ainda, que para substituir o nim é necessário um preparo, ao invés de sair cortando todas as árvores, prejudicando o meio ambiente e aumentando o calor. “Percebemos que onde eles estão plantados há um espaço entre uma árvore e outra, podemos então plantar uma árvore nativa nesses espaços que sobram, como um ipê, um pau-paraíba, um jucá”, argumenta.

Com dois ou três anos da espécie nativa bem cuidada e desenvolvida, dando boa sombra, pode-se retirar o nim, diz o cientista agrônomo. Essa substituição paulatina já ocorre em Sobral e em Morada Nova e é um exemplo, segundo Lamartine, do plano de arborização das cidades.

Segundo Lamartine, o correto na urbanização urbana seria replicar o que ocorre no ambiente natural, com plantas nativas: “Pode-se perceber que nos nim não se encontra insetos ou pássaros, que não conseguem se alimentar dos frutos dessa árvore”.

O nim como problema urbano

Outro fator que fez a plantação do nim se espalhar foi por causa do seu extrato resultar em um poderoso inseticida natural. O problema foi que se pensava que só em plantar a árvore se obteria essa ação repelente, o que não é o caso. O morcego foi um dos animais importantes ao disseminar a planta, pois ele tenta consumir o fruto da árvore, complementa Lamartine.

Além das críticas do campo da biologia, arquitetos e urbanistas também possuem ressalvas com a planta. Para a arquiteta e urbanista Fernanda Rocha, são muitos os malefícios do nim no ambiente urbano. “Começando por sua dimensão: trata-se de árvore de grande porte, e portanto, inadequada à largura de nossas pequenas calçadas, o que implica em canteiros pequenos para comportar o desenvolvimento de seu tronco, e as raízes acabem por causar danos ao pavimento.”

Problemas com a fiação também marcam a história da árvore pela Cidade. “A incompatibilidade com a fiação aérea, implicando em elevados custos de manutenção e grande geração de resíduos, por conta da constante poda exigida”, complementa a urbanista.

Em nota, a Seuma informou que, entre janeiro e julho de deste ano, plantou cerca de 60 mil mudas. A iniciativa faz parte do Plano de Arborização de Fortaleza e incluiu espécies nativas como pau-brasil, flamboyant, catingueira, pajeú, jucá, aroeira-pimenteira, tamboril, mulungu, paineira com espinhos, mutamba, jenipapo e ipês.

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Pádua Marques

Jornalista, cronista, contista, romancista e ecologista.

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