Moradores humildes de Barra Grande vivem momentos de terror com violência de milícias.

É no mesmo local de cenário paradisíaco de belas praias que moradores têm denunciado que estão sofrendo represálias e perseguições por conta do local de onde tiram o sustento e onde vivem. Na localidade Nova Barra Grande, que fica a poucos quilômetros do famoso vilarejo, na zona rural do município de Cajueiro da Praia, não é raro ouvir relatos de moradores que foram vítimas de ameaças, tiveram perdas na sua produção e até suas casas destruídas. As denúncias apontam que grileiros de terras estariam por trás das ações para retirarem os moradores do local.

De acordo com os moradores, são cerca de 40 famílias que vivem na região. Atuações de agentes públicos estariam por trás de ameaças e coações às pessoas com o objetivo de retirá-las das suas terras sob o pretexto de que elas não são as detentoras daquele terreno: toda a área é pertencente à União, cuja responsabilidade é da Superintendência do Patrimônio da União.

 Antônio Carlos conta que, depois que deixou de trabalhar como pedreiro, passou a viver da pesca e da agricultura, com que já havia trabalhado quando mais novo. Ele construiu uma pequena casa sem cômodos em uma área rural próxima a um lago, área essa pertencente à União, onde passou a plantar e criar alguns animais, há pelo menos sete anos. No entanto, no final do ano passado, conta que passou a receber “avisos” de pessoas que se apresentavam como policiais dizendo que ele não deveria estar ali. Ele chegou a ter a pequena casa onde morava incendiada no momento em que ele tinha saído para pescar.

“Eu estava aqui com um amigo meu fazendo cofo quando vieram um bocado de carro, um com fuzil, tinha roupa do exército, e os outros, me perguntando como foi que eu entrei aqui, ai eu falei: ‘foi um amigo que me apresentou porque eu não tinha onde morar’, ai ele falou: ‘pois você sabia que aqui é de domínio da União? Eu disse: ‘sabia, mas eu pensei que tava liberado para a gente’, ai ele disse Seu Antonio, a gente vai respeitar a sua casa, mas eu pensei que ia respeitar também minha cerca, aqui era cheio de planta, já grande, ai eles saíram para cima, quando voltaram, já foi derrubando tudo.  (…) depois eu sai para pescar, quando eu chego, a situação da casa, dessa forma, ainda tinha fumaça”, relatou.

Depois de ter a própria casa incendiada, ele contou que passou a ter medo e não volta mais a dormir no local. Ele passou a não mais pescar nos horários habituais a apenas volta para o local para vistoriar as suas plantações e criações de galinha que ainda permanece na área.

“Eu tenho medo ainda porque aqui fica distante das pessoas, e ai eu fico aqui até tarde, mas depois eu vou dormi para acolá, eu dormia era aqui, agora não fico mais”, disse.

Ordem de despejo

Além das ameaças de que supostos agentes policiais estariam fazendo de forma indevida, operações efetivas da Polícia Federal destruíram casas e cercas dos moradores do local, segundo a instituição, a partir de um cumprimento de ordem de despejo. Os moradores apontam que pelo menos 40 casas foram derrubadas por tratores em uma operação em novembro de 2023.

O José Ribamar mora em um pequeno casebre com a esposa e os quatro filhos pequenos. Ele relata que os agentes da Polícia Federal chegaram com os tratores derrubando algumas casas e determinara que saíssem do local porque se tratava de uma “invasão à propriedade alheia”, conforme relato.

“Eles chegaram dizendo: ‘aqui tudo tem dono, vocês tão invadindo a propriedade alheia’, ai eu digo, ‘mas como, se desde quando eu nasci e me criei eu moro aqui e nunca apareceu dono, e agora tem dono?’ E ele disse que agora tem dono, ai o pessoal da Federal que veio aqui, eu fui olhar o plantio do meu primo, eles colocaram arma em mim e me mandaram vir embora, eu vim (…)

Eles disseram que ali tudo era, eles disseram o nome do pessoal, que não era para ninguém mais mexer ali que tudo tinha dono. E eu perguntei, ‘mas como que tem dono se eu nasci e me criei aqui’, aqui plantei a vida toda, paguei renda dessas terras aqui, mas sem nunca ter dono, mas pagava a renda porque dizia que tinha dono para o plantio. E a terra sendo da gente, porque a terra é nossa, não é do povo rico que vem de fora dizer que é dono”, relatou.

O agricultor, que planta milho, feijão, macaxeira, coco, caju, dentre outros, relata que a situação com a presença da Polícia Federal foi a mais recente e mais deixou destruição na comunidade, mas que outras ameaças já vinham acontecendo.

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Pádua Marques

Jornalista, cronista, contista, romancista e ecologista.

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