Briga de polícia com imprensa. *Pádua Marques

Sem sequer ter um gato pra puxar pelo rabo, a dita imprensa de Parnaíba, agora resolve falar grosso cobrando privilégio pela clareza e precisão das matérias que ganharam repercussão nacional e internacional e tratam sobre as investigações policiais das mortes por envenenamento de uma família pobre do bairro Iragaçu, na zona oeste. Esta série de mortes, inclusive de crianças, a cada dia se torna um capítulo incômodo e sombrio na antes pacata cidade de Parnaíba.

Se bem que que se diga, faz tempo que a imprensa parnaibana anda querendo acabar. Parnaíba não tem jornal impresso, tem apenas duas emissoras de rádio, uma de televisão, tinha duas, uma simplesmente sumiu e uma pá de portais e blogs que empestaram as redes sociais que notícias de crime, roubos e toda sorte de violência. Qualquer notícia que precise de repercussão morre nessa mídia perversa.

Essa situação de pobreza me faz lembrar uma personagem que dá nome a um conto no meu livro Serragem, a dona de cabaré e cafetina Lotinha Miranda, a Carlota Miranda que num  bate-boca com o delegado diz que ele estava mais por baixo que que rastro de búzio. Aí o diabo saiu da garrafa! Mas voltando à questão da imprensa parnaibana, toda cheia de autoridade, criou uma nota de repúdio cobrando respeito por parte da Polícia Civil, dirige as investigações. Mas quem assina a nota? Qual entidade?

A imprensa de Parnaíba, não tem representatividade, cada um que se mete a ser repórter age por sua conta e risco, ninguém tem vínculo empregatício com empresa, um negócio sem pé nem cabeça, mais pé do que cabeça. Agora mais essa, brigar com a Polícia Civil, tomando satisfação por privilégios sobre um fato porque dá repercussão nacional.

Redes sociais não é imprensa. Pode até querer ser, mas não é. Imprensa é rádio, televisão, jornal, revistas, que embora em declínio, ainda tem o poder de formar opinião. Me causa admiração na Parnaíba, ter uma entidade de nome pomposo, ASCOMPAR, Associação dos Comunicadores Sociais de Parnaíba, que não tem sede nem estatuto, mas que todos os anos realiza a Semana da Imprensa. Almoços, com jantares, coquetéis, entrega de diplomas, tem uma rainha e tudo o mais.

Mas não se preocupa com a situação trabalhista de seus associados, não se detém sobre a qualificação de seu pessoal, enfim imprensa tem de ser de qualquer jeito. Dá nisso, essa falta de sintonia da imprensa com suas fontes. Ninguém sabe em que vai dar essa rusga tão fora de hora. O certo é que a polícia, como parte integrante do governo, do estado, precisa da projeção da imprensa. E a imprensa precisa da polícia porque é na polícia onde a imprensa encontra material de consumo público farto e de graça. * Pádua Marques, jornalista, romancista, cronista e contista, membro da Academia Parnaibana de Letras e do Instituto Histórico, Geográfico e Genealógico de Parnaíba.

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Pádua Marques

Jornalista, cronista, contista, romancista e ecologista.

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