Acabou o Calçadão! *Pádua Marques.

Nesta quinta-feira resolvi ir ao centro da cidade resolver uns problemas domésticos e aproveitei para passar e ver de perto as obras que a nova administração municipal anda fazendo no conhecido centro velho, mais precisamente no calçadão da Marechal Deodoro. Calçadão esse que nunca tive curiosidade de saber quem foi a alma boa que teve essa infeliz ideia de criar.

Se alguém sabe que me diga, em qual administração municipal, qual o propósito porque o certo e o errado é que sua vida foi ficando foi ficando, se acostumando e acabou agora, depois salvo engano mais de três ou quatro décadas. Virou, resguardadas as proporções, a nossa 25 de Março na Terra de Simpilição e de Mão Santa. Finalmente acabou depois que a prefeitura criou um shopping popular e aproveitando o embalo deu o apelido de Silvio Santos. Até hoje tem gente mangando, outros torcendo o canto da boca e outros xingando essa arrumação!

O Calçadão da Marechal Deodoro, teve uma vida útil longa. Deu pra ver nascer na Parnaíba umas três gerações de jovens comerciantes vindos de todos os lugares, de dentro e de fora da cidade: Araioses, Tutoia, Luiz Correia, Cocal, Bom Princípio, Chaval, Camocim. Se eu ficar aqui nomeando não acabo mais. Gente que veio chegando e foi encostando uma barraca de madeira, um tamborete, uma coisinha aqui, outra ali, e quando deu fé já estava estabelecido, até de cabelo limpo, limpo e bem estabelecido. Dono de supermercado e armazém no distante bairro Piauí.

A Parnaíba, essa tão cantada Parnaíba por seus historiadores, sempre teve esse peito largo e cheio para amparar os pequenos, médios e grandes comerciantes, tanto faz os de pé de balcão quanto os de cima de uma lona e até no chão bruto, dos mercados públicos. Pois bem, hoje foi um dia triste e ao mesmo tempo alegre. Vieram mulheres feias, gordas, crianças miúdas, homens e velhos, todo mundo com um aparelho celular, registrando a saída daquelas barracas de madeira, cobertas de papelão que por muitos e muitos anos, serviram de abrigo para os ambulantes, se protegerem do sol e da chuva, venderem suas mercadorias de ganho.

Não vi ninguém chorando ou de cara feia. A mim lembrou uma mudança em casa de pobre para uma casa um pouquinho maior. Rádios, relógios, roupas, bijuterias, capas e carregadores de celulares, cuecas de um real, calcinhas, pilhas, toda sorte de quinquilharias vindas do Paraguai e de Hong Kong, e aquela gente toda ali trabalhando com um sorriso largo na incerta esperança que está indo para um canto melhor. É a vida. Eu desejo que eles tenham muita sorte e aqui me ocorreu lembrar de uma música antiga, aquela do velho Adoniran Barbosa, a Saudosa Maloca. Amanhã sexta-feira eles estarão de casa nova. Vão levar um tempo para acostumar, mas é assim mesmo! * Pádua Marques é romancista, cronista e contista, membro da Academia Parnaibana de Letras e do Instituto Histórico, Geográfico e Genealógico de Parnaíba.

 

 

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Pádua Marques

Jornalista, cronista, contista, romancista e ecologista.

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